1. Lutas contemporâneas no tempo presente: Prof. Ms. Daniel Chaves (UNIFAP/UFRJ, daniel.chaves@unifap.br) e Prof. Dr. Iuri Cavlak (UNIFAP/NYU, iuricavlak@yahoo.com.br).
Resumo: Considerando a missão de intensificação nos estudos em História Contemporânea no estado do Amapá, na Amazônia e no Brasil, parte integrante dos trabalhos ora em curso na Universidade Federal do Amapá, propomos um simpósio temático que sobre o chamado “tempo presente”, do local e regional para o mundo. Este, entendido aqui como uma racionalidade crítica constituinte de tais debates, estará voltado para as questões das lutas políticas e sociais, dos dilemas entre conservadorismos e liberalismos, das direitas e das esquerdas e dos (sempre novos) movimentos sociais. Estas categorias e dinâmicas são hoje revitalizadas nos estudos históricos no Amapá e na Amazônia, boa parte em função da proliferada discussão acerca destas na história e historiografia locais, com forte crítica ao tradicionalismo de narrativas (e esquecimentos) historicamente estabelecidas. Assim, retroalimentada, tal História Contemporânea se engaja neste esforço de entendimento sobre o seu papel mundializante e geral sobre as questões locais e regionais que ora a subsidiam. Da mesma forma inovadora, discussões sobre novas fontes, temas e abordagens diferenciadas terão espaço cativo para tal multilateralidade interdisciplinar, também. A construção de tais pontes e a superação de limites comuns ao conhecimento das humanidades, atenta às fronteiras do saber histórico, são parte do desafio acolhido por tal Simpósio.
Justificativa: O Tempo Presente envolve-se nas mais polêmicas, divergentes e interessantes questões ‘quentes’ da História Contemporânea. Perguntas como: o que narrar, e como narrar? O que merece ser transformado em objeto maior da história e qual é o crivo de lembrança/esquecimento que define tais objetos e olhares? Quem são seus personagens e como podem ser protagonistas? Como tais debates holísticos devem - e tendem a serem – representativos sobre as escolhas técnicas, políticas e morais das sociedades do tempo presente? Em torno da questão regional amazônica, quais são as retóricas, os estereótipos e os lugares de fala privilegiados e desprivilegiados para a construção desta articulação geográfico-identitária? O Tempo Presente, urbi et orbi, por excelência, tem várias vozes e memórias a se discutir sobre passado, presente e futuro.
Objetivo: Discutir, de forma decisiva e abrangente, o papel da História Contemporânea como campo de debates protagônico e subsidiário para a historiografia e discussões históricas locais e regionais, enfatizando desafios e dilemas, prerrogativas e limites, estratégias e retóricas. Ademais, tal objetivo deverá se dar de forma plural, inclusiva e reticular, privilegiando a multiplicidade de identidades e construtos históricos ora existentes e transeuntes pelos meios acadêmico e leigo na complexidade da contemporaneidade histórica.
2. História e fontes orais/ audiovisuais: Prof. Dr. Giovani José da Silva (UNIFAP/UNB, giovanijsilva@hotmail.com) Profª. Ms. Maura Leal da Silva (UNIFAP/UNB, mauraleal.ap@gmail.com).
A relação entre história, memória e oralidade, aliados ao uso da tecnologia audiovisual como meio de registro do passado, possibilitou o alargamento das fronteiras históricas, ao estabelecer a ampliação dos diálogos com outras áreas do saber, sem, no entanto, provocar uma ruptura dos seus domínios. Da mesma forma, lançou novos desafios para os mais diversos pesquisadores que se utilizam da memória e das fontes orais, e os convida a refletirem sobre suas práticas metodológicas e construções discursivas.
O Simpósio Temático “História e Fontes Orais/ Audiovisuais” se volta para os entrelaçamentos entre memória, história oral e audiovisual, com objetivo de contribuir com esse debate, ao propor reunir estudantes, professores e pesquisadores, sejam eles historiadores, antropólogos, sociólogos, geógrafos, linguistas, pedagogos, entre outros, que focalizem as questões que envolvem a memória como instrumento de ensino, pesquisa e reflexão – em entrevistas orais e/ ou audiovisuais – e que investiguem possibilidades interdisciplinares da narrativa histórica na construção de trajetórias individuais e/ ou coletivas. Nesse sentido, um dos objetivos específicos deste Simpósio é suscitar reflexões metodológicas que discutam o valor e a especificidade de tais fontes, sobretudo o diálogo entre fontes escritas, orais e audiovisuais, e como tais experiências narrativas podem articular o micro com o macro social. O Simpósio Temático se propõe também a receber trabalhos que problematizem debates voltados aos usos políticos do passado e as relações instauradas entre pesquisadores e narradores/ colaboradores.
Nesse direcionamento, as pesquisas reunidas nesse ST dialogarão sobre os procedimentos metodológicos da História Oral e os usos e abusos sociais da memória oral no presente. Abarcarão, assim, as demandas contemporâneas que tocam à memória social, à escrita da história e aos diálogos interdisciplinares, tendo em vista que a produção de fontes para narrativas biográficas (por meio de registros orais e/ ou audiovisuais), por apresentar grande potencialidade interpretativa e o poder de ativar e evocar memórias, contribui para a reflexão das práticas sociais e culturais da sociedade contemporânea, tais como: mecanismos de lembranças, usos e processos que provocam os esquecimentos, mitos fundadores, ritos sobre a vida e a morte, artes de narrar, dentre outras que serão postas em tela para reflexão. Dessa forma, o ST se propõe a discutir e aprofundar tais possibilidades, englobando as implicações envolvidas nessa produção, definindo seu estatuto e refletindo possíveis interfaces com a historiografia.
Bibliografia:
DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. História oral: memória, tempo, identidades. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. 136 p.
FERREIRA, Marieta de Moraes; FERNANDES, Tania Maria; ALBERTI, Verena (Orgs.). História Oral: desafios para o século XXI. Rio de Janeiro: Fiocruz/ Casa de Oswaldo Cruz/ CPDOC – FGV, 2000. 204 p.
MEIHY, José Carlos Sebe B.; HOLANDA, Fabíola. História Oral: como fazer, como pensar. São Paulo: Contexto, 2007. 175 p.
MONTENEGRO, Antonio Torres. História, metodologia, memória. São Paulo: Contexto, 2010. 188 p.
WHITAKER, Dulce Consuelo Andreatta; VELÔSO, Thelma Maria Grisi (Orgs). Oralidade e subjetividade: os meandros subjetivos da memória. Campina Grande: Eduep, 2005. 235 p.
3. A formação do professor de história: teoria e prática pedagógica: Prof. Ms. Iza Vanessa P. de F. Guimarães (UNIFAP, izavanesa@yahoo.com.br) e Profa. Dra. Siméia de Nazaré Lopes (UNIFAP/UFRJ, simeialopes@yahoo.com.br)
Ementa:
As exigências curriculares na Educação Básica e as demandas sociais do mundo contemporâneo exigem do professor de história um repensar contínuo de sua prática pedagógica. Ainda há inúmeros obstáculos quando o assunto é a produção do conhecimento histórico em sala de aula, quando se trata do processo de construção da consciência histórica nos discentes na Educação Básica. Nesse debate, os estudos sobre a relação entre professor e aluno, entre o saber acadêmico e o saber escolar, entre a universidade e a escola devem ocupar papel de destaque. Esse Simpósio Temático constitui-se, portanto, como um espaço de diálogo entre professores universitários e principalmente, professores da Educação Básica, acadêmicos e pesquisadores que se voltam para a grande área do “ensino de história”. Tem a finalidade, portanto, de refletir sobre a formação do professor de história e de problematizar os desafios e as possibilidades de ensinar história no mundo de hoje, priorizando trabalhos com diversas temáticas: representações no ensino de história, o uso dos livros didáticos, a disciplina história e os PCNs, avaliação em história, métodos e conteúdos na disciplina história, representações do tempo histórico na sala de aula, as “novas” linguagens no ensino de história, assim como relatos de experiências de ensino.
Justificativa:
As novas propostas metodológicas para o ensino de história nos níveis fundamental e médio têm possibilitado a ampliação de recursos e técnicas com o intuito de apresentar ao aluno a história, ensinada na sala de aula, como um processo histórico. Tais propostas estão articuladas ao debate historiográfico produzido nos diversos ambientes de pesquisa e nos grupos de trabalho que têm a cultura escolar como objeto de estudo.
Nesse sentido, consideramos fundamental o espaço de diálogo que esse Simpósio Temático propõe, sendo uma oportunidade de discutir as várias concepções de história e tempo histórico que estão presentes nas escolas de ensino fundamental e médio e como os conceitos estruturadores da história são trabalhados em sala de aula pelos professores. Quando questionamos sobre como os alunos na Educação Básica entendem o sujeito e o fato histórico dentro das diversas temporalidades históricas em sala de aula, observamos a grande importância que tem as diversas abordagens metodológicas no ensino de história.
Temos em vista que aquilo que está inscrito no currículo da disciplina história não é apenas informação, mas envolve a produção ativa das sensibilidades, modos de percepção de si e dos outros, formas particulares de agir, sentir, operar sobre si e sobre o mundo. E, sobretudo, quando pensamos na concepção de currículo na formação do professor e na realidade escolar presente no ensino fundamental e médio, entendemos que essa concepção não pode ser homogeneizada através de questões fechadas, mas que devem ser debatidas em sala de aula atentando para as particularidades presentes na formação do professor e do ambiente escolar em que esse professor estará interagindo com os discentes.
Acreditamos na importância desta discussão e desejamos que ela torne-se mais consolidada ainda dentro da academia, de modo que os princípios e os objetivos do ensino de história estejam presentes nas práticas de ensino-aprendizagem, e, que assim, consigamos realizar a transformação necessária, na perspectiva da integração entre professores e alunos na Educação Básica e comunidades acadêmicas, no processo de construção de um saber histórico compartilhado e inclusivo.
Objetivos:
Geral:
- Discutir temas ligados ao ensino de história, no tocante às relações entre professores e alunos na Educação Básica e a formação acadêmica desses professores.
Específicos:
- Analisar as principais visões historiográficas sobre o ensino de história;
- Analisar as concepções de história e as várias representações do tempo histórico no processo de produção do conhecimento histórico escolar;
- Discutir a relação entre teoria da história, prática pedagógica e cidadania;
- Propor possibilidades para o ensino de história a partir dos estudos inscritos no Simpósio Temático;
- Discutir possibilidades de objetos de pesquisa que podem ser delimitados a partir do estudo do ensino de história.
4. Trabalho, Estado e conflitos sociais na Amazônia (século XX): Prof. Dr. Sidney da Silva Lobato (UNIFAP, lobato.sidney@yahoo.com.br)
Ementa: congrega estudos das ações governamentais que, durante o século XX, tentaram transformar a Amazônia (especialmente sua parte oriental) na fronteira do Brasil moderno. Congrega também estudos das táticas desenvolvidas pelos trabalhadores para o enfrentamento dos desafios a sua sobrevivência, surgidos no bojo das transformações promovidas pelas classes dirigentes, no Baixo Amazonas e durante o século XX.
Objetivos
O Simpósio Temático Trabalho, Estado e conflitos sociais na Amazônia (século XX), por meio de seus textos e discussões, objetiva:
► analisar as ações de controle que as classes dirigentes realizaram no sentido de modernizar aspectos do modo de vida dos trabalhadores amazônicos;
► problematizar as estratégias que foram utilizadas pelos populares no enfrentamento das práticas de controle governamental.
Justificativa
Perseguindo as especificidades e dirigindo nossa atenção para o espaço amazônico, pretendemos evidenciar a diversidade de experiências na efetivação do processo de modernização. No último século, a existência de especificidades naturais e sociais na Amazônia reclamara posicionamentos e respostas diferentes dos centros decisórios e dos subalternizados. Ao longo do século XX, o Estado encetou nesta região políticas um amplo leque de políticas que pretendiam alterar os modos de vida que aí preponderavam. Por exemplo: campanhas de saúde e educação, que condenavam a chamada “cultura do caboclo”; criação de colônias agrícolas; criação e aparelhamento urbano dos Territórios Federais; rodovialização (abertura de estradas e rodovias); concessão de crédito e de isenções fiscais a grandes projetos industriais; e outros. Mas, esta política draconiana de modernização entrou em choque com diversos interesses das classes dominantes regionais e com as culturas populares amazônicas.
A Amazônia Oriental era (e é) um espaço de diversidades sociais, econômicas e culturais. Apontamos para esta complexa convivência de grupos com valores e interesses próprios, ao nos propormos a discutir e analisar as reentrâncias do poder estatal no cotidiano das populações do Norte brasileiro. Destarte, o estudo da história recente das povoações do Baixo Amazonas nos possibilitará entender um pouco mais sobre o modo como a expansão da fronteira da modernização constituiu espaços saturados de conflitos sociais.
BIBLIOGRAFIA
AMARAL, Alexandre; OLIVEIRA, Augusto; SANTOS, Dorival; CAMBRAIA, Paulo; LOBATO, Sidney (orgs.). Do lado de cá: fragmentos de história do Amapá. Belém: Açaí, 2011.
BECKER, Bertha K. Amazônia. 3 ed. São Paulo: Ática, 1994.
BRITO, Daniel Chaves. A modernização da superfície. Belém: UFPA/ NAEA, 2001.
CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Pastoral da terra: posse e conflitos. São Paulo: Paulinas, 1966.
COSTA, Paulo Marcelo Cambraia da Costa. Na ilharga da Fortaleza, logo ali na beira, lá tem o regatão: os significados dos regatões na vida do Amapá — 1945 a 1970. Belém: Açaí, 2008.
D’ARAÚJO, Maria Celina. Amazônia e desenvolvimento à luz das políticas governamentais: a experiência dos anos 50. Revista Brasileira de Ciências Sociais. N. 19, ano 07, jun. de 1992.
D’INCAO, Maria Ângela e SILVEIRA, Isolda M. da (orgs). A Amazônia e a crise da modernização. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 1994.
DRUMMOND, José Augusto e PEREIRA, Mariângela de Araújo Póvoas. O Amapá nos tempos do manganês: um estudo sobre o desenvolvimento de um estado amazônico — 1943-2000. Rio de Janeiro: Garamond Universitária, 2007.
FOWERAKER, Joe. A luta pela terra: a economia política da fronteira pioneira no Brasil de 1930 aos dias atuais. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
GRANDIN, Greg. Fordlândia: ascensão e queda da cidade esquecida de Henry Ford na selva. Rio de Janeiro: Rocco, 2010, p. 35-46, 279-330.
GUIMARÃES NETO, Regina Beatriz. A lenda do ouro verde: política de colonização no Brasil contemporâneo. Cuiabá: UNICEN, 2002.
HARDMAN, Francisco Foot. “Ferrovia fantasma: nos bastidores da cena”. In: Trem fantasma: a ferrovia Madeira-Mamoré e a modernidade na selva. 2 ed. Rev. e amp. São Paulo: Companhia das Letras, 2005, p. 138-180.
HUERTAS, Daniel Monteiro. Da fachada atlântica à imensidão amazônica: fronteira agrícola e integração territorial. São Paulo: Annablume, 2009, p. 105-163.
IANNI, Octavio. A luta pela terra: história social da terra e da luta pela terra numa área da Amazônia. Petrópolis: Vozes, 1978.
LENHARO, Alcir. Colonização e trabalho no Brasil: Amazônia, Nordeste e Centro-Oeste. 2 ed. Campinas: Editora da UNICAMP, 1986.
LIMA, Antonio Carlos de Souza. Um grande cerco de paz: poder tutelar, indianidade e formação do Estado no Brasil. Petrópolis-RJ: Vozes, 1995, p. 119-153.
LOBATO, Sidney. Educação na fronteira da modernização: a política educacional no Amapá (1944-1956). Belém: Paka-Tatu, 2009.
MACIEL, Laura Antunes. A nação por um fio: caminhos, práticas e imagens da “Comissão Rondon”. Tese de doutorado em História, PUC-SP, 1997, p. 68-135.
MARTINELLO, Pedro. A “Batalha da Borracha” na Segunda Guerra Mundial e suas consequências para o Vale Amazônico. Tese de doutorado em História Econômica, USP, 1985.
MARTINS, José de Souza. Vida privada nas áreas de expansão da sociedade brasileira. In: SCHWARCZ, Lilia M. (org.). História da vida privada no Brasil. Contrastes da intimidade contemporânea. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
MARTINS, José de Souza. Fronteira. São Paulo: Hucitec, 1997.
MONTEIRO, Maurílio de Abreu. Meio século de mineração industrial na Amazônia e suas implicações. Estudos avançados. Vol. 19, nº 53, janeiro/ abril de 2005, p. 187-207.
MUSUMECI, Leonarda. O mito da terra liberta: colonização “espontânea” campesinato e patronagem na Amazônia Oriental. São Paulo: Vértice e ANPOCS, 1988.
PAZ, Adalberto Júnior Ferreira. Os mineiros da floresta: sociedade e trabalho em uma fronteira de mineração industrial amazônica (1943-1964) Dissertação de mestrado em História, UNICAMP, 2011.
PINTO, Lúcio Flávio. A desorganização do grande projeto. In: CASTRO, Edna; MAIA, Maria Lúcia S.; E MOURA, Edila A. F. Industrialização e grandes projetos. Belém: UFPA, 1995, P. 47-58.
RAIOL, Osvaldino. A utopia da terra na fronteira da Amazônia: geopolítica e o conflito pela terra no Amapá. Macapá: O Dia, 1992.
REIS, Arthur Cézar Ferreira. Território do Amapá: perfil histórico. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1949.
RIBEIRO, Darcy. Os índios e a civilização: integração das populações indígenas no Brasil moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
SECRETO, María Verónica. Soldados da borracha: trabalhadores entre o sertão e a Amazônia no governo Vargas. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2007, p. 61-88.
TOCANTINS, Leandro. Amazônia. Rio de Janeiro, Editora Companhia Nacional, 1960.
VELHO, Otávio Guilherme. Sociedade e agricultura. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.