Não faz muitos anos, havia quem dissesse que o Amapá não tinha história. A crescente profissionalização dos estudos históricos nas antigas terras do cabo norte, porém, passou a insistir sobre “que história era essa” que se dizia existir ou não, atestando que versões concorrentes sobre o passado começavam a se enfrentar na arena social amapaense, em busca de afirmação e legitimidade. Em um intervalo pouco maior que dez anos, o resultado dos trabalhos de grupos de professores, pesquisadores e alunos reunidos na Universidade Federal do Amapá e Pará, além de pesquisas de mestrado e doutorado em importantes universidades do país, têm contribuído para ampliar o debate sobre algumas “verdades” há muito estabelecidas no imaginário local. Assim, temas como imigração, colonização, “heróis”, comércio, trabalho, cultura e identidade, disputas fronteiriças, vultos e personalidades políticas fundadoras e quase divinizadas, entre outros, passaram a ser objeto de criteriosa análise histórica acadêmica, cujo resultado é muito bem-vindo entre os praticantes do nosso ofício, embora ainda não suficientemente conhecido fora do restrito círculo de especialistas.
Destarte, hoje passamos a agregar outros desafios. Do ponto de vista do ensino, por exemplo, podemos nos perguntar seriamente sobre o quanto de nossas pesquisas tem alcançado um público mais amplo – especialmente os alunos da Educação Básica –, o qual continua a utilizar obras de visível carência em relação aos padrões historiográficos profissionais, do Oiapoque ao Jari, inclusive em aulas ministradas por professores egressos de nossa própria universidade. Por outro lado, no âmbito da pesquisa, tem sido cada vez mais comum certa desconfiança sobre a operacionalidade do recorte espacial e analítico centrado em uma história propriamente “do Amapá”, ignorando ou menosprezando conexões mais extensas, sejam nacionais ou internacionais.
Dilemas sobre o ensino e a pesquisa de história no Amapá, que nos motivaram a defini-los como tema para a IX Semana do Curso de História da Unifap, em 2013. Ao fazê-lo, porém, não pretendemos tornar o evento um espaço exclusivo de discussão entre professores e alunos do curso, mas uma singular ocasião para o compartilhamento de ideias e experiências entre profissionais da área de história e demais interessados, no intuito de fomentar contribuições, debates e o aprofundamento de questões que digam respeito tanto aos estudos históricos, em particular, quanto aos relacionamentos mais gerais entre a academia e a sociedade.