Resumos da IX Semana

Simpósio Temático: Lutas contemporâneas no tempo presente
Coordenador: Dr. Iuri Cavlak (UNIFAP/NYU) e Ms. Daniel Chaves (UNIFAP/UFRJ)
Local: Escola de Administração Pública do Estado do Amapá (EAP)
Dias: 03 de dezembro de 2013.
Horário: de 14h00 a 18h00.

Resumos dos Trabalhos

A trajetória do Movimento LGBT no Brasil: das lutas e conquistas
Renan Ramos de Almeida (Círculo de Pesquisas do Tempo Presente / UNIFAP)

Observando a crescente visibilidade que o segmento de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis – LGBT - vem ganhando na última década, procuro analisar como surgiu e como se organiza toda a vivência que envolve o mundo da luta pelos direitos humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis e as suas conquistas, entre as quais as políticas públicas voltadas para este segmento da população, ao registrar e analisar de forma crítica o caminho que estes sujeitos percorreram para consolidar os seus direitos. Hoje o fascínio que este movimento gera através de intensas mobilizações como marchas e paradas de orgulho LGBT, com as conquistas de seus direitos civis e os ludibriantes pontos de encontro LGBT, leva a problemáticas acerca do acúmulo histórico gerado pelos sujeitos históricos que abriram os caminhos para o surgimento e o desenvolvimento deste movimento, questionamentos que devem ser respondidos entre os quais quem são esses indivíduos, o que os levou a ter essa iniciativa, onde vivem e o que pensam. Estes sujeitos devem ter o seu acúmulo histórico analisado em no espaço temporal que parte do início das primeiras mobilizações do segmento aos dias atuais no Brasil.


V de Vingança no tempo e nos espaços contemporâneos.
João Vinícius Marques Gaia (Círculo de Pesquisas do Tempo Presente / UNIFAP)

O presente trabalho consiste em uma analise sobre as relações possíveis entre os fatos históricos ocorridos no Reino Unido durante o governo da primeira-ministra inglesa, Margaret Thatcher, e a história em quadrinhos V de Vingança, de Alan Moore e David Lloyd, publicada no mesmo período. Considerado as HQs como importante fonte histórica, pretendemos contribuir para o seu reconhecimento como tal, e para a constituição de um espaço de discussão acadêmica sobre História e história em quadrinhos.


Bolívia: das margens ao centro da experiência democrática sul-americana
Daniel Chaves (Círculo de Pesquisas do Tempo Presente / UNIFAP)

O debate ora exposto pretende discutir, na abrangência dos dez anos da explosão da Guerra do Gás (2003) em La Paz, capital da Bolívia, os impactos da primeira revolução e experimento democrático do século XXI. Tratava-se, ali, da presença de um pêndulo que oscilou em diversos países sul-americanos, e posteriormente na década que se seguira de indignações, com consecutivas quedas de presidentes, diversas reformas constitucionais insustentadas e catástrofes sóciopolíticas e econômicas anunciadas. A emergência do debate sobre a natureza das engenharias de inclusão/exclusão em um mundo multipolar fora marcante no pós-11 de Setembro, seja no mundo emergente – a América do Sul revolucionária, nacionalista e esquerdizada -, seja nas franjas das economias desenvolvidas – los indignados, das primaveras árabes, dos ocupantes e black blocs. Cabe sugerir caminhos, assim, para uma genealogia desta contribuição sul-americana, original e indígena, para a década que se seguira.

- intervalo -

Crise de abastecimento alimentar em Macapá de 1986 a 1988.
Idbas do Amaral Pantoja (Círculo de Pesquisas do Tempo Presente / UNIFAP)

Esta pesquisa elucida os fatores agravantes da crise de abastecimento de alimentos em Macapá ocorrida na década de 80, com ênfase no período que vai de 1986 a 1988. Assim como, mostra as consequências para população em função disso. Da mesma forma algumas questões de mercado relacionadas a abastecimento como a carestia e infra estruturais, relevados através de precariedades nos locais de comercialização de alimentos.


Trajetória das subsidiárias da British American Tobacco Company: Brasil e Argentina (1920-1960).
Andrius Estevam Noronha (professor da Unifap)

Esse artigo constitui uma análise comparada sobre a trajetória empresarial da British American Tobacco Company (B.A.T.) no século XX tendo como ilustração as cidades de Santa Cruz do Sul, localizada na região sul do Brasil, e a cidade de Buenos Aires, capital da Argentina. O que aproxima a abordagem desses casos é sua capacidade de atrair investimentos estrangeiros do setor fumageiro que se desenvolveram em seus respectivos parques industriais culminando com a instalação da principal indústria de beneficiamento de fumo e fabricação de cigarros do mundo. Abordaremos num primeiro momento a atuação da B.A.T. na cidade de Santa Cruz do Sul, num segundo momento a atuação desse empreendimento na cidade de Buenos Aires e num terceiro momento a análise comparada apontando aproximações e distâncias nas estratégias de inserção política, econômica e cultural dos dois casos.

Caminhos para o estudo do Tecnobrega no Amapá (2000-2012).
Chayenne Da Silva Farias (Círculo de Pesquisas do Tempo Presente / UNIFAP)

Este artigo se propõe a recensear caminhos, abordagens, potencialidades e limitações ao estudo do tecnobrega no estado do Amapá entre 2000 e 2010, visto que este gênero musical se constitui numa das principais manifestações culturais populares da região e seguramente pode ser observado para além das fronteiras do estado do Pará na direção de uma afirmação expressiva da cultura transamazônica contemporânea. Para tanto, busco familiarizar o leitor às discussões acerca da música “brega” - semânticas, estigmas, linguagens e variações -, além dos debates que tem norteado os estudos sobre as culturas nascentes da era da globalização, como a respeito das ditas culturas híbridas e o cosmopolitismo digital pós-globalizado; demonstrando como esse estudo tem sido realizado em outro estado, o Pará, e existindo a possibilidade, de que forma este estudo pode ser feito no estado do Amapá. A ideia deste trabalho, em resumo, é compreender as emanações e expressões culturais do Amapá do século XXI, atento às questões musicais, de dança e outras, daí decorrentes e derivadas, apontando caminhos para seu estudo e propondo soluções às dificuldades que surjam nessa realização.


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Simpósio Temático: Trabalho, Estado e conflitos sociais na Amazônia (século XX)
Coordenador: Dr. Sidney Lobato (UNIFAP)
Local: Escola de Administração Pública do Estado do Amapá (EAP)
Dias: 03 e 04 de dezembro de 2013
Horário: de 14:00 a 18:00 h.

Resumos dos Trabalhos


·         03/12 — Terça-feira (14:00 às 18:00 h.)

Muitos sujeitos, outros governos, nenhuma pátria: fugitivos, autoridades e disputas territoriais na Amazônia entre os séculos XIX e XX
Adalberto Paz (Professor da UNIFAP e Doutorando na UNICAMP)

Resumo: entre o final do século XIX e início do XX, uma grande área localizada no extremo norte amazônico esteve constantemente sob tensão, em virtude de importantes disputas fronteiriças entre o Brasil e a França e uma série de iniciativas colonizatórias malogradas. Ao contrário das afirmações historiográficas tradicionais, que tendem a analisar os episódios da República do Cunani, a criação do Triunvirato da vila do Amapá e a Colônia Penal de Clevelândia do Norte sob a ótica da atuação ou repressão originária de um nacionalismo brasileiro, atento à manutenção da ordem e integridade territorial da nação, este trabalho pretende analisar os dois primeiros enquanto manifestação dos interesses, agência e organização de uma ampla gama de personagens (escravos fugitivos, garimpeiros, aventureiros, desertores, comerciantes) em torno das possibilidades criadas pela ausência de soberania internacionalmente reconhecida sobre o chamado Contestado Franco-brasileiro. A partir disso, esses indivíduos criaram instituições próprias, proclamando autonomia e estabelecendo suas próprias leis. Por outro lado, se num primeiro momento Clevelândia do Norte representou o fracasso do estado brasileiro em planejar e executar uma política eficiente de colonização sobre o território conquistado pelo Laudo Suíço, os dirigentes dos primeiros anos da República encontraram uma utilidade mais “prática” – e lúgubre – àquela antiga colônia agrícola localizada no Oiapoque, agora não mais se referindo às ameaças estrangeiras, mas principalmente aos próprios “inimigos” e dissidentes internos.

Trabalhadores agroextrativistas e territorialidade no sul do Amapá (século XX)
Rafaele Costa Flexa (Mestra pela UNIFAP)

Resumo: a Amazônia esteve em vários momentos do século XX sob forte exploração dos recursos naturais, como borracha, castanha, madeira e muitos outros, que eram exportados ao comércio nacional e internacional. Ocorreu também neste século o aceleramento do processo de ocupação, com a influência do planejamento governamental, pelo qual o Estado assumia a iniciativa de um novo ciclo de devastação da floresta amazônica. No final deste século, ocorreram inúmeras lutas das populações amazônicas que, em aliança, reivindicavam: o direito à terra, o usufruto dos recursos necessários à sobrevivência e o respeito aos princípios ecológicos. No Sul do Amapá, a criação do Projeto de Assentamento Extrativista (PAE) no Maracá e da Reserva Extrativista (Resex) do Cajarí — ambos com limites territoriais demarcados — foram resultado da luta pela terra empreendida no âmbito regional. Este trabalho tem o objetivo de entender a luta dos agroextrativistas e o reconhecimento da territorialidade destes por parte do Estado. Em vista disso, este estudo requereu pesquisa bibliográfica, documental e de campo (observação e entrevistas), para a produção de informações. Os resultados mostram que a relação com a natureza através das formas de uso comum de determinados espaços e recursos, o estabelecimento de regras informais compartilhadas, a concepção de reprodução familiar e de subsistência, são os principais demarcadores da territorialidade dos agroextrativistas. Entre estes, o movimento organizado não visava apenas a conservação ambiental, mas (também e principalmente) perseguia o direito de permanecer e trabalhar no local onde viviam. A luta empreendida na segunda metade do século XX modificou a velha concepção de reforma agrária, reconhecendo a ocupação tradicionalmente realizada. Conclui-se que os trabalhadores agroextrativistas, em confronto com o modelo de desenvolvimento que se impunha, abarcaram um olhar sobre a região, evidenciando que esta não mais poderia ser vista com a percepção remissiva do Estado brasileiro — como vazia, homogênea e atrasada. O reconhecimento pelo Estado de áreas como o PAE no Maracá e a Resex no Cajarí garantia a terra e estabelecia legalmente: as formas diferenciadas de apropriação da natureza e a participação dos trabalhadores agroextrativistas como co-gestores dos espaços de vivência.

Triste 06 de janeiro: memórias e representações do naufrágio do barco “Novo Amapá”
Danilo Mateus da Silva Pacheco (aluno de Curso de Especialização na UNIFAP)

Resumo: o barco Novo Amapá naufragou em janeiro de 1981, no rio Cajarí, divisa entre os estados do Pará e do Amapá. Este sinistro levou a óbito mais de trezentas pessoas. A maioria era formada por trabalhadores da empresa Jari Florestal, instalada na região de Monte Dourado, estado do Pará, na segunda metade do século XX. A pesquisa buscou analisar a diversidade de representações deste trágico evento, não somente aquelas manifestas na memória das pessoas que foram por ele afetadas, mas também nos meios artístico e jornalístico. Contudo, neste texto, enfocaremos as representações presentes nas reminiscências pessoais e confrontaremos a memória imediata (do pós-naufrágio) com a memória atual (2013). Entrevistamos seis vítimas diretas do naufrágio e comparamos os discursos delas com os relatos coletados, por João Alberto Capiberibe, na espoca do naufrágio. Discutiremos também a forte relação entre as vítimas do sinistro e a já citada Jari Florestal, analisando as condições estruturais às quais os trabalhadores de tal empreendimento eram submetidos. A pesquisa nos levou a inferir que não havia qualquer sistema de transporte da empresa para esses trabalhadores e nem condições seguras de navegabilidade oferecidas pelo governo do Amapá. Tais fatores levaram a embarcação Novo Amapá a sair do porto — localizado no munícipio de Santana (estado do Amapá) — com uma superlotação de passageiros e com uma quantidade de carga muito superior ao limite estabelecido, o que contribuiu fortemente para o naufrágio.

Ocupar, fixar e educar: trabalhadores do interior do Brasil e os projetos governamentais para o Amapá e o Ceará entre os anos 1944 e 1960
Lara de Castro (Doutoranda na UFBA)

Resumo: no último quartel do XIX, o Ceará vivenciou muito criticamente a situação das secas. As autoridades políticas temiam o despovoamento devido às mazelas da fome e das doenças que afligiam a população pobre atingida pelas estiagens. Assim, diante dos problemas sociais decorridos do ajuntamento de retirantes, uma das alternativas foi incentivar a “exportação” do problema. Nesse contexto, a propagandeada prosperidade decorrente exploração da borracha na Amazônia exercia sobre os cearenses uma forte atração, estimulando-os a migrar para aquela região. Entretanto, no XX, os esforços do Estado foram mais diretos – nem por isso mais efetivos – no sentido de evitar o êxodo desses braços. Toda essa preocupação em fixar o trabalhador nos seus locais de origem agregava-se à antiga sede de integração territorial que ganhou reforço durante o século XX, especialmente depois da “Marcha para o Oeste”. Na verdade, não somente o Centro-Oeste como o Nordeste e a Amazônia – os sertões brasileiros – estavam unidos dentro de um projeto que visava integrá-los à nação por meio da superação do atraso, da ocupação, da fixação e da adequação do povo do interior a uma nova ordem, que era a do trabalho “civilizado” e “disciplinado”. Nesse rumo, o objetivo desse artigo é fazer uma análise dos planos do governo para os estados e os trabalhadores amazônidas e nordestinos, enfocando especialmente o Amapá e o Ceará, em parte dos anos quarenta e nos anos cinquenta.

Obreiros do meio do mundo: trabalho e solidariedade no bojo da urbanização macapaense (1944-1964)
Sidney Lobato (Professor da UNIFAP e Doutor pela USP)

Resumo: o objetivo de nosso texto é analisar as experiências dos trabalhadores, ocorridas em Macapá, entre 1944 e 1964, no bojo do processo de obreirização — a abertura de várias construções de prédios e casas, promovida: pelo governo, pelos empresários, pela Igreja e pelos novos moradores. Os construtores da “Macapá moderna” ergueram uma cidade que lhes era negada (total ou parcialmente). Dentro e fora do sistema produtivo, estes trabalhadores não eram vistos como portadores de direitos definitivos. Argumentamos que, no compartilhamento de conhecimentos durante o labor cotidiano, no enfrentamento dos dilemas em torno da sobrevivência e no embate com as forças opressoras do regime de produção, forjava-se o sentimento de pertencimento a uma classe: a trabalhadora.

Moradores do lago: assentamentos humanos nas ressacas do Amapá
Luinny Carla Gentil Vasconcelo (aluna de Curso de Especialização na UNIFAP)

Resumo: dissertar sobre as comunidades localizadas nas áreas úmidas da cidade de Macapá é na verdade uma tentativa de preservar uma parte da experiência dos excluídos, para que num futuro próximo se tenha um link desta experiência com a narrativa histórica não só da capital, mas de todo o estado do Amapá. Esta pesquisa propõe um estudo acerca dos protagonistas sociais das ressacas do Amapá, com ênfase para os moradores da ressaca do Zerão. Esses assentamentos humanos são constantemente apresentados pelas mídias como aglomerados habitacionais miseráveis, sem saneamento básico, com deficiência de infraestrutura e com grande acumulação de lixo. Em Macapá, a grande proliferação desses assentamentos humanos deu-se a partir de 1990. O rápido crescimento demográfico, que já vinha sendo estimulado pela transformação do Território Federal do Amapá em estado (em 1988), intensificou-se ainda mais com a criação da Área de Livre Comércio e Santana (em 1990). Surgiu então um dinamismo particular que provocou profundas alterações na rede urbana, através da veloz multiplicação dos espaços habitados, planejados ou não. Um desses espaços são as ressacas. A produção de habitações palafíticas é comum em áreas tropicais e equatoriais de alto índice pluviométrico. São construções sobre estacas de madeira muito utilizadas nas chamadas áreas de baixada, junto aos igarapés, rios e alagados. As palafitas caracterizam um estilo arquitetônico muito comum na Pan-Amazônia. Porém, as ressacas devem ser entendidas não apenas em sua estrutura física, que por si não consegue dar conta da complexidade da realidade ali existente. Elas devem ser percebidas como espaços sociais que são fruto da dinâmica das relações desiguais estabelecidas na sociedade e dos modos culturalmente variados de apropriação do mundo material.



A formação regional do Bico do Papagaio
Patrícia Rocha Chaves (Professora da UNIFAP e Doutoranda na USP)

Resumo: este trabalho diz respeito a uma parte de minha tese de Doutorado em Geografia Humana, que está sendo desenvolvida desde o ano de 2011, na Universidade de São Paulo (USP). Aqui, apresento minhas concepções sobre a formação regional do Bico do Papagaio, localizado entre o sul do Maranhão, o norte do Tocantins e o sudeste do Pará. Nesse discuto especialmente a formação histórica e geográfica dessa região. Assim, foram utilizadas bibliografias teóricas — referenciando a região de pesquisa — e documentos temáticos disponibilizados pela CPT (Comissão Pastoral da Terra). Dessa forma, não há uma divisão temática dentro do texto, pois ele mesmo constitui uma totalidade dentro de outra totalidade, que é a tese.

·         04/12 — quarta-feira (14:00 às 18:00 h.)

Borracha e cotidiano: relação seringueiro/ patrão no município de Afuá-PA de 1939 a 1945
Maurício Guedes de Negreiros (aluno de Curso de Graduação na UNIFAP)

Resumo: este trabalho tem como objetivo apresentar as balizas de uma pesquisa ainda incipiente sobre o cotidiano de famílias que trabalharam nos seringais amazônicos, bem como sobre a relação do seringueiro com o patrão, num momento em que a economia da borracha retomava sua importância no cenário mundial: o advento da Segunda Guerra Mundial. Nesta perspectiva, buscaremos responder a algumas indagações intrigantes, tais como: de que forma viviam estas famílias? Como elas viam o patrão? Quem ia para as estradas dos seringais? Quais eram as obrigações das mulheres? Elas também ajudavam nos seringais? De que forma? E os filhos trabalhavam com os pais na produção do látex? Qual era a idade na qual eles passavam a acompanhar os pais nos seringais? Estas pessoas/ comunidades tinham conhecimento dos acontecimentos ocorridos fora de seu círculo imediato de convívio local, como a Segunda Grande Guerra? Identificavam-se como soldados da borracha? Ou seja, muitas são as interrogações sobre aqueles que viveram e trabalharam nos seringais da floresta amazônica. Os métodos que utilizaremos na pesquisa serão: produção de depoimentos de seringueiros e/ou familiares destes (História oral), análise de artigo de jornais, e mais levantamento, coleta e análise de documentos em fundos de arquivos variados (paróquia, fórum, delegacia policial, entre outros), do município de Afuá-PA.

Caboclos titânicos no Inferno Verde: trabalhadores migrantes cearenses entre a história, a memória e a literatura
Antonio Alexandre Isidio Cardoso (Doutorando na USP)

Resumo: o presente trabalho visa discutir algumas facetas e representações das migrações de trabalhadores cearenses rumo ao território amazônico, a partir do século XIX. Tal problemática será enfrentada nos entremeios da história, da memória e da literatura, tendo em conta a larga produção intelectual que abordou a temática durante o século XX. Para tanto, alguns autores serão discutidos, como Euclides da Cunha, Alberto Rangel, Samuel Benchimol, Arthur Reis e Craveiro Costa. Autores que podem ser considerados construtores de feições discursivas sobre o fluxo migratório em questão, contribuindo de modo decisivo com a memória dita oficial e com o apagamento dos conflitos sociais. Questionar-se-ão, portanto, as várias atribuições de sentido ao processo, além de suas implicações no entendimento das representações de trabalhadores cearenses em terras amazônicas historicamente.

Cafezinho com farinha por leite e pão: a alimentação e o discurso de progresso e civilidade na Macapá territorial
Paula Mayara de Castro Calado (aluna de Curso de Graduação na UNIFAP)
Tayane Lima Pedrosa Costa (aluna de Curso de Graduação na UNIFAP)

Resumo: este trabalho analisa o discurso político e ideológico do governo de Janary Gentil Nunes sobre alimentação macapaense, de 1944 a 1948. Segundo aquele governante, uma mudança na alimentação fazia-se necessária para que o Território chegasse ao progresso. Tendo em mente as mudanças na alimentação propostas por Getúlio Vargas no cenário nacional, partimos da problematização do que era uma “boa” e uma “má” alimentação nesse período. Indagamos: por que o governo pretendia mudar a alimentação da população macapaense? Desenvolvemos essa pesquisa, principalmente, a partir da leitura e análise do Relatório das Atividades de Governo do Território Federal do Amapá e do livro Alimentação e Progresso, do médico e nutrólogo Dante Costa. Entre outros resultados, constatamos que o discurso oficial do governo de Janary Nunes acerca dos “bons” hábitos alimentares fazia parte de um amplo esforço para inserir “as terras longínquas do Amapá” no projeto de consolidação da unidade nacional e do progresso.

Janary, “o nosso governador”: a relação dos marabaixeiros com o governo territorial (1944-1956)
Sândala Cristina da Soledade Machado (aluna de Curso de Graduação na UNIFAP)

Resumo: a chegada do governador Janary Gentil Nunes ao Amapá, em 1944, provocou uma série de mudanças econômicas, politicas, sociais e culturais. Com um projeto de governo baseado nos propósitos varguistas de “sanear, educar e povoar”, o então governador, remanejou a comunidade negra residente no centro histórico de Macapá, para as áreas do Laguinho e Favela. Para isso, Janary Nunes teve como apoiador o “Mestre” Julião Thomaz Ramos, importante líder da comunidade remanejada e um muito atuante organizador da mais conhecida festa da cultura popular negra amapaense: o Marabaixo. A partir desse momento, iniciou-se uma relação estreita entre o governo territorial e os marabaixeiros. Neste texto, objetivamos analisar como era estabelecida a relação entre a classe dirigente territorial e os praticantes do Marabaixo, durante o governo de Janary Gentil Nunes (1944-1956), bem como as mudanças ocorridas na manifestação durante este período. As fontes utilizadas nesta pesquisa foram: artigos do jornal Amapá e depoimentos dos praticantes do Marabaixo do Laguinho. Por fim, percebeu-se que a atuação dos janaristas era antidemocrática. Ou seja, o governo capturava a criação social para oficializá-la e irradiá-la para toda a sociedade.

Fronteiras da fé: o Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras, de Milão ao Amapá (1926-1965)
Welison Couto da Cunha (aluno de Curso de Especialização na UNIFAP)

Resumo: temos como tema de pesquisa a História da Igreja Católica no Ocidente. Enfocamos o percurso do Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras (PIME), com o objetivo de melhor conhecer a experiência histórica dos padres que durante muitas décadas trabalharam no Amapá. O período estudado vai da origem deste instituto (1926) até seus primeiros esforços para o estabelecimento das bases da diocese de Macapá, no Território Federal do Amapá (até 1965). Nosso texto encerra-se com a análise das transformações ocorridas na Prelazia de Macapá, em decorrência da atuação dos missionários do PIME.

A evolução urbana da cidade de Santana e a experiência com planos diretores entre 1959 e 2007
Alanna Aquemi Santiago Saito (aluna de Curso de Especialização na UNIFAP)

Resumo: a produção historiográfica sobre as cidades vem crescendo paulatinamente e ganhando seu espaço na historiografia brasileira. Nesse sentido, muitos pesquisadores, inspirados principalmente nos trabalhos já existentes sobre os grandes centros urbanos europeus, como Londres e Paris, passaram a produzir estudos voltados para a temática urbana no Brasil. Dessa maneira, as cidades tornaram-se importantes objetos de estudo, despertando o interesse, além de historiadores, de: geógrafos, antropólogos, arquitetos, urbanistas, entre outros. Assim sendo, este trabalho pretende fazer uma análise do processo de evolução urbana da cidade de Santana e da sua experiência com planos urbanísticos ou planos diretores, entre os anos de 1959 e 2007. Nosso objetivo é identificar o que foi pensado para essa cidade nesses planos e verificar o grau de aplicabilidade dos mesmos, além de estabelecer diferenças entre os modelos de planejamento contidos nesses documentos. Para tanto, foram utilizadas como principais fontes: as revistas dos planos diretores e algumas fotografias da cidade de Santana.

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Simpósio Temático: História e fontes orais/ audiovisuais
Coordenadores: Prof. Dr. Giovani José da Silva (Unifap/ UnB) e Profª. MSc. Maura Leal da Silva (Unifap/ UnB)
Local: Escola de Administração Pública do Estado do Amapá (EAP)
Dias: 03 e 04 de dezembro de 2013.
Horário: de 14h00 a 18h00.

Resumos dos Trabalhos

  • Dia 03/12 - 14h às 18h

Memórias indígenas nas “terras do Cabo Norte”: o uso de fontes orais e audiovisuais na compreensão da histórica presença da diversidade étnica no Estado do Amapá
Giovani José da Silva (Doutor em História/ Pós-Doutor em Antropologia – Unifap/ UnB)

O Estado do Amapá, localizado na região Norte do Brasil e pertencente à Amazônia, possui em seu território atual uma rica diversidade étnica e cultural, destacando-se nesse quadro, além de afrodescendentes e migrantes de distintas procedências, as seguintes populações indígenas: Wajãpi, Palikur, Karipuna, Galibi Marworno e Galibi Kali'nã. Em conjunto, os índios somam uma população de aproximadamente seis mil indivíduos, concentrados basicamente em duas grandes áreas no Estado (os Wajãpi ao Noroeste e os demais grupos no Oiapoque, extremo Norte). Embora tais populações já tenham sido estudadas por pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, notadamente antropólogos (tais como Antonella Tassinari, Artionka Capiberibe, Lux Vidal e Ugo Maia Andrade, dentre outros), ainda há poucos trabalhos realizados no âmbito da História Indígena, destacando-se os de Simone Garcia e Cecília Bastos, professoras da Unifap (Universidade Federal do Amapá). Em outras palavras, há importantes lacunas a serem preenchidas para um conhecimento mais aprofundado das trajetórias temporais e espaciais de tais populações em território amapaense, seja no presente e/ ou no passado. Discutir as tarefas que podem ser realizadas por historiadores que se utilizam de fontes orais e/ ou audiovisuais, problematizando a diversidade cultural e as memórias indígenas no Estado do Amapá (chamado em tempos pretéritos de “terras do Cabo Norte”), é o objetivo da comunicação.

A representação sobre os índios em livros didáticos de História
Silvia Pinheiro Araújo (Graduanda em História – Unifap)

A comunicação tem por objetivo apresentar os resultados parciais de uma pesquisa de análise do livro didático de História no período correspondente a 1996-2006, partindo do princípio que o mesmo ao longo dos anos sofreu alterações para adequar-se a uma História multicultural. Neste sentido, é necessário identificar a representação que o indígena tem hoje na produção didática resaltando continuidades e descontinuidades desse sujeito ao longo da História do Brasil. O texto abordará as múltiplas construções representativas sobre os indígenas presentes no livro didático, que muitas vezes são descaracterizados como sujeitos históricos. Para tanto, tal especificidade histórica dimensionou a visão idílica do homem americano, do bom selvagem, a vivência num cenário idílico e nu, assim como a visão romântica do índio corrompida pela acumulação capitalista que mais tarde teve reflexos na Literatura brasileira. Vale frisar que quando se menciona a palavra resistência é acessível encontrar escritos sobre o negro e toda dimensão de descaso e submissão que lhe foram atribuídos, o que raramente ocorre em relação ao índio, construído como um ser passível que assistiu a ocupação de seu território, além da eliminação física e cultural. A ideia de um índio genérico com representações estereotipadas e preconceituosas que foram incorporadas na historiografia brasileira e no ensino de história deixa de lado as particularidades e diferenças dos diferentes povos que habitavam (habitam) o Brasil. Percebe-se nos manuais que há um consenso na lembrança das três raças – branca, negra e indígena – na formação do povo brasileiro, em contraponto, nota-se atualmente uma dificuldade de tratar a existência de diferenças étnicas e sociais. O que corrobora enfoques no passado em uma historiografia europeia, ou seja, uma história baseada nos grandes eventos das potências europeias. Entretanto, a presença do índio não é problematizada, e sim um fato consumado, resultado do mesmo aparecer como coadjuvante na história. A importância de se estudar a produção didática dá-se a respeito da formação da imagem do Outro, referencial básico dos estudantes nas séries iniciais em nossa sociedade. Cabe enfatizar que o livro didático não é a única fonte para conhecer o Outro, mas em alguns casos, muitas vezes, este instrumento é o único material da escola, do professor e do aluno (material impresso disponível) que acaba cristalizando o conhecimento.

Padre Júlio Maria de Lombaerde: Igreja, moral e sexualidade em Macapá (final do século XIX e início século XX)
Josimar Gouveia de Sousa (Graduando em História – Unifap)

A comunicação remete ao estudo sobre a história do Padre Júlio Maria de Lombaerde e na visão do pároco para com os seus fiéis sobre a sexualidade no período localizado entre o final do século XIX e o início do XX, em Macapá. Relacionando a História com a igreja e os diversos discursos moralizantes do período, faz-se uma leitura sobre os escritos deixados pelo padre e a memória das pessoas cujos pais ou avós conviveram com ele. Enfatiza-se principalmente a posição da mulher naquela época e as diversas regras da Igreja e da sociedade macapaense sobre a mesma, cujos espaços sociais eram ocupados apenas no serviço da casa, na igreja e na obediência ao marido. Outro ponto a ser discutido é a extensa bibliografia do Padre Lombaerde, como um representante da Igreja Católica que nessa época é ainda mais moralizadora, normativa e conservadora. Parte da construção do trabalho traz a História Oral na busca da memória sobre Júlio Maria de Lombaerde e das pessoas que ouviram histórias dos seus pais ou mesmo avós que o retrataram, constituindo-se em memórias geracionais. O trabalho com as fontes documentais se baseará principalmente no livro Padre Júlio Maria: sua vida e sua missão (de autoria do Padre Antônio Miranda), além de cartas que o mesmo deixou.

Memórias do desfile de “7 de setembro” em Macapá: patriotismo e sociabilidades familiares (1970-2013)
Patrick da Silva Bezerra (Graduando em História – Unifap)

A comunicação objetiva apresentar os resultados de um trabalho realizado por meio de entrevistas, em que se buscou trazer à memória um evento que durante muito tempo contou com a participação maciça de famílias amapaenses: o desfile de “07 de setembro”. Durante um longo período da história de Macapá, tal evento era realizado numa das mais importantes avenidas da cidade, a Avenida FAB. Nos anos de 1970 o desfile se tornava um momento em que as famílias amapaenses se reuniam e reforçavam os seus sentimentos patrióticos. O fato da realização do desfile ser em uma avenida na área central da cidade, possibilitava uma melhor locomoção das pessoas que desejavam apreciar o evento. Em 1998 foi inaugurado o Sambódromo de Macapá, onde passou a ser realizado o desfile de “7 de setembro”, que começou a perder gradativamente o seu prestigio, pois a participação das famílias foi ficando diminuta e o sentimento patriótico que outrora contagiava as famílias amapaenses foi arrefecendo. Segundo os entrevistados, a localização da realização do evento em uma área distante do centro da cidade de Macapá, foi um dos fatores responsáveis pela falta de participação das famílias no evento. Nos anos 2000 em diante o desfile passou a contar com a participação quase que exclusivamente de funcionários do governo e familiares de militares e as famílias amapaenses, em sua maioria, não prestigiam mais o evento. A longa distância e a deficiência do setor de transportes da cidade de Macapá concorrem para a ausência de participação de um número significativo de famílias amapaenses, principalmente as que residem na zona norte da cidade. O sentimento patriótico tão presente noutros tempos vêm sendo relegado e a importância da pesquisa é a de recuperar a memória do desfile.

O silêncio sobre o “Largo dos inocentes”: modernização e esquecimento em Macapá
Suzana Gomes da Silva (Graduanda em História – Unifap)

A comunicação consiste em algumas reflexões preliminares acerca das representações dos cemitérios no contexto social macapaense, bem como contribuir com os debates historiográficos sobre a morte. Tal tema não é novo na História, mas para a historiografia local requer uma análise acerca do assunto. Lucien Febvre (1993) aponta que de alguma forma, a tarefa do historiador é fazer com que os mortos tenham uma “voz audível” na sociedade de sua época e que cabe ao mesmo “dar vida ao passado”, munido de suas indagações e subjetividades para construir para além da sua época o entender sobre o que seria esse passado. Nessa perspectiva, objetiva-se compreender como as tentativas de modernização urbana em Macapá vêm apagando a história e a memória do “Largo dos inocentes”, conhecido popularmente como “Formigueiro” situado atrás da Igreja de São José de Macapá, no centro da cidade. Utilizando-se de bibliografia pertinente ao tema (Philippe Ariès, João José Reis, dentre outros), a metodologia consiste em levantamentos bibliográficos, utilização de técnicas de História Oral, consulta a correspondências paroquiais e artigos de jornais. Assim, procura-se compreender como os espaços urbanos e sociais são transformados através do tempo e o estranho silêncio da sociedade macapaense sobre o “Largo dos inocentes”, um antigo “cemitério de anjinhos”, hoje praça e estacionamento mal cuidados.

Vestígios da história do Amapá: populações marginalizadas no período Janary Nunes (1944-1954)
Eranilda Abreu de Oliveira (Graduanda em História – Unifap)

A comunicação tem como objetivo apresentar os resultados iniciais da pesquisa “Vestígios da história do Amapá: populações marginalizadas no período Janary Nunes (1944-1954)”, tendo em vista que a história do Amapá ainda tem muito para ser construída, tendo como sujeitos aqueles que ficaram à margem desse processo. Será destacado o processo de exclusão de parte da população amapaense com base nos escritos de Michele Perrot (especialmente Os excluídos da história), enfatizando-se o remanejamento dos afrodescendentes do centro de Macapá para áreas periféricas no governo Janary Nunes (1944). Também serão ressaltadas as formas de resistência desenvolvidas pelos marginalizados, como por exemplo, o “Marabaixo” que foi usado no período para mostrar a indignação e insatisfação da população negra. Serão utilizados métodos como revisão bibliográfica, História Oral (entrevistas) e consultas a jornais e arquivos (Cúria Diocesana, Câmara de vereadores, etc.). Espera-se recuperar para a história do Amapá a memória desses sujeitos históricos, marginalizados no passado e no presente.

  • Dia 04/12 - 14h às 18h

O trabalho compulsório indígena na construção da Fortaleza de São José de Macapá (1764-1782): imagens do período colonial
Rohan Carlos Melo Morais e Welden Berg Carvalho Costa (Graduandos em História – Unifap)

A comunicação apresenta a análise da questão não só do saber histórico, mas dos fatos quanto às camadas de atores sociais inseridos no contexto, tendo na pesquisa o pressuposto de um modelo de organização social, proposto por um sistema político pensado pelo colonizador europeu, especificamente pelos portugueses, no período colonial para “civilizar” grupos indígenas que teoricamente não se enquadravam dentro de um modelo imposto. Por este motivo tonava-se necessário construir uma nova identidade, dar novos nomes aos indivíduos ameríndios e torná-los “súditos da Coroa”. A Fortaleza de São José de Macapá é uma fortificação militar de destaque na Amazônia e, portanto, um marco histórico. A pesquisa a ser apresentada foi problematizada tendo como pano de fundo a construção da Fortaleza, procurando-se compreender o impacto causado por esta imponente elevação arquitetônica na vida dos indivíduos que habitavam o espaço amazônico dentro de determinado contexto histórico. O interesse pelo tema surgiu da necessidade de se compreender a vida dos sujeitos históricos e suas contribuições para a construção da historia presente. Procurar-se-á responder: como a construção da Fortaleza de São José de Macapá tornou-se motivo de opressão, de violência e de escravização para as sociedades indígenas? Como todo esse processo foi combatido pelas etnias indígenas presentes no período histórico entre 1764 e 1782? Espera-se apresentar algumas imagens e representações do período colonial a respeito dos indígenas, a partir das reflexões engendradas pela pesquisa.

A produção iconográfica de dois viajantes franceses sobre a Amazônia setentrional (século XIX)
Pauliany Barreiros Cardoso (Graduanda em História – Unifap)

No panorama das expedições científicas estrangeiras no Brasil, realizadas principalmente entre os séculos XVIII e XIX, está inserido o tema central da pesquisa “A produção iconográfica de viajantes franceses sobre a Amazônia setentrional no Século XIX”. O escopo é a análise das gravuras e imagens produzidas nas obras de dois viajantes franceses (Jules Crevaux e Henri Coudreau), no contexto iluminista, em contraponto com os relatos e imagens dos exploradores europeus a partir do século XV, estes últimos ainda fortemente influenciados pelo pensamento medieval. Assim, é o objetivo principal é analisar permanências e mudanças no pensamento dos viajantes quinhentistas em contrapartida com o pensamento já influenciado pela razão iluminista, a partir de ilustrações realizadas em viagens científicas. Para estabelecer o recorte espacial foi observada a área percorrida por ambos onde atualmente situa-se a fronteira entre o Brasil e a Guiana Francesa, ou seja, a área que hoje compreende o extremo Norte do Estado do Amapá. Os estudos dos dois expedicionários gauleses foram realizados a partir da segunda metade do século XIX. Ainda que a pesquisa vise detectar nas ilustrações das obras em pauta, elementos constitutivos das novas perspectivas científicas que influenciaram consubstancialmente esses navegantes levanta-se como hipótese se ainda poderia haver vestígios do imaginário medieval dos exploradores europeus de outrora. Visa-se delimitar, por meio das imagens reproduzidas da natureza e do homem amazônida, a cultura e a identidade dos povos daqueles tempos e lugares.

Viva Zapata! A utilização do cinema como fonte para a compreensão da Revolução Mexicana em aulas de História
Norma Alini dos Santos Rodrigues (Graduanda em História – Unifap)

Em 20 de novembro de 1910 iniciou-se no México um movimento político contra o então presidente Porfírio Diaz, esse movimento levou os camponeses a uma revolta popular que se espalhou por todo o país, resultando na conhecida Revolução Mexicana. O programa de reivindicações dos revoltosos incluía a reforma agrária, o motivo principal da luta do exército liderado por Emiliano Zapata. A comunicação apresenta a análise da utilização do filme “Viva Zapata!” como fonte para a compreensão desse contexto histórico nas aulas de História, pois tal recurso permite que os alunos visualizem o local, a sociedade e o modo de vida dos camponeses do Estado de Morelos que lutavam pela retomada de suas terras, seu principal meio de sobrevivência. Portanto, o uso de filmes como “Viva Zapata!” pode contribuir para o entendimento do processo histórico vivido pelos camponeses mexicanos no início do século XX.

O estereótipo da violência do Bairro Perpétuo Socorro, Macapá, AP
José Dieyvison Freitas da Silva; Luiz Henrique Favacho Guimarães; Márcia da Costa Gomes da Silva (Graduandos em História – Unifap)

A comunicação apresenta a análise de um tema considerado intrigante que é o preconceito criado acerca de bairros considerados como violentos localizados na cidade de Macapá, Estado do Amapá. O Bairro Perpétuo Socorro nasceu oficialmente em 1984, através do decreto 672, e com o passar dos anos teve o seu nome modificado a partir da construção da Igreja denominada Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, homenagem feita à padroeira das proximidades. Com isso, aproveitando a oportunidade de trabalhar com uso da História Oral, investigou-se o que os moradores pensam acerca do estereótipo criado acerca de seu bairro, uma vez que violência existe em todos os bairros das cidades, mas sendo sempre reforçado quando se fala em Perpétuo Socorro. O bairro escolhido para a pesquisa está localizado no perímetro urbano da cidade, próximo ao centro de atividades comerciais da capital. A intenção foi investigar a imagem até então estereotipada atribuída ao bairro, vinculadas quase sempre de forma estigmatizada por diversos meios de comunicação como sendo violento ou de pouca tranquilidade urbana. A metodologia empregada foi a pesquisa de campo, apoiada na aplicação de entrevistas e coleta de informações por meio de questionários, formulários com testes a alguns moradores. Além disso, contou-se com narrativas dos residentes mais antigos, o que possibilitou o contato com fontes orais da história. A pesquisa levou a identificar fatores que geralmente favorecem a difusão de ideias negativas da localidade e que acabam se perpetuando na memória da população em geral, tais como o alto índice de criminalidade e a publicação de matérias do gênero nos meios impressos e televisivos da capital são alguns dos sujeitos apontados para a estigmatização que há do bairro. É importante ainda dizer que o bairro Perpétuo Socorro é um dos poucos bairros que possuem em sua localidade um Batalhão da Polícia Militar. No entanto, mesmo com este policiamento presente ainda existem várias pessoas que não se sentem seguras por achar que estes policiais não são o suficiente em número para o controle da violência ou mesmo por acreditarem que estarão envolvidos com aqueles que causam medo na população local.

“Chapéu de couro”: a trajetória de vida do Sr. José Pereira da Silva
Deila Barbosa Leão (Graduanda em História – Unifap)

Esse trabalho tem como objetivo apresentar, de forma sucinta, a trajetória de vida do senhor José Pereira da Silva (“Chapéu de couro”) no Amapá, mais especificamente na cidade de Santana. Sua trajetória é relevante como objeto de estudo, em razão da importância política e social para a formação do Bairro Paraíso. “Chapéu de couro” é personagem conhecida na cidade de Santana, pois além de ter sido o primeiro presidente do bairro recém-criado, exerceu grande influência na execução de obras que resultaram em grandes melhorias em prol do Bairro Paraíso. Essas primeiras reflexões resultaram de um trabalho desenvolvido em parceria com outro aluno. Na época foi entrevistado o senhor José Pereira da Silva, um migrante nordestino, que chegou a terras amapaenses antes da criação do Território do Amapá, em 1940. Toda a trajetória de vida de “Chapéu de couro” no Amapá se confunde com a própria história do surgimento do município de Santana, uma vez que atuou de forma intensa na formação do mesmo, mais especificamente na criação do Bairro Paraíso. Considerando o importante acervo documental que se catalogou sobre essa história, o senhor José Pereira da Silva se coloca como o guardião de toda essa memória.

Decleoma Lobato Pereira e o candomblé no Amapá – história, memória, migração e hibridismo cultural: o uso da oralidade como fonte de pesquisa
Sabrina Sousa da Costa (Graduanda em História – Unifap)

A comunicação apresenta resultados de pesquisa com a utilização de fonte oral e surgiu em razão do projeto intitulado “Diálogo com os historiadores amapaenses”, coordenado pelas professoras Maura Leal e Cecília Bastos, com o objetivo de entrevistar historiadores e pesquisadores locais. No projeto era necessário primeiramente ler a obra da pesquisadora, para assim poder realizar a entrevista, levando-se em conta os seguintes critérios: informações sobre o autor e como o mesmo analisava a história local e sua linha de pesquisa. Para desenvolver a investigação, a historiadora Decleoma Lobato Pereira utilizou como fonte de pesquisa a memória oral, documentos impressos e imagens e vídeos, com o intuito de estabelecer as relações entre as práticas de Candomblé, Umbanda, Mina e Cura que são realizadas em Macapá, AP. Por meio da pesquisa pode-se ter um contato teórico-metodológico com os relatos de sua experiência e compreender mais sobre as práticas do Candomblé. O projeto resultará também na pesquisa de TCC que se está realizando juntamente com a Acadêmica Luane Tomaz de Brito Fonseca. Outros participantes do projeto foram os alunos Alfredo João Braga Sampaio e Priscila Pereira Lacerda.

“Salvando memórias da cidade de Macapá”: a construção de um arquivo documental digital com fontes orais
Maura Leal da Silva (Mestra em História/ Doutoranda em História – Unifap/ UnB)

A comunicação é decorrente de reflexões preliminares desenvolvidas a partir do projeto de pesquisa intitulado “Salvando memórias da cidade de Macapá”, com o objetivo de construir um arquivo documental digital de depoimentos com personagens que vivenciaram os anos de 1944 a 1964, na cidade de Macapá. Várias foram as motivações que levaram a pretensão desse estudo. Até o presente, os arquivos como instituições de pesquisa, sistematizados e organizados, ainda são inexistentes em todo o Estado. A maioria das pesquisas tem se desenvolvido a partir de documentações esparsas e de domínio privado. Além disso, deve-se considerar a importância que as fontes orais têm adquirido nas últimas décadas, como campo de estudo que não só alargou os horizontes da pesquisa histórica, como também trouxe para o campo do debate historiográfico novos problemas e novos dilemas. Dentre esses, a exigência de metodologias cada vez mais complexas. A construção desse arquivo pretende não só contribuir para a abertura de um espaço de pesquisa, como também na elaboração de instrumentos que possam fomentar e subsidiar trabalhos que se utilizam das fontes orais e audiovisuais como campo de estudo.

Simpósio Temático: A formação do Professor de História: teoria e prática pedagógica
Coordenadoras: Dra. Siméia de Nazaré Lopes (UNIFAP) e Ma. Iza Vanesa Guimarães (UNIFAP)
Local: Escola de Administração Pública do Estado do Amapá (EAP)
Dias: 03 de dezembro de 2013.
Horário: de 14h00 a 18h00.

Resumos dos Trabalhos


História do Amapá no livro didático
Gleidson Costa da Silva (graduando Unifap)

Este trabalho analisa como a História do Amapá é apresentada nos livros didáticos utilizados pelas turmas de 3º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Professor Nilton Balieiro Machado, no período de 2010 a 2012, a partir da implantação da Lei nº 1183 de 2008 que institui a disciplina História do Amapá na rede pública Estadual de Ensino. Para essa análise utilizou-se como fontes os livros didáticos de história, o Plano Curricular Estadual e a caderneta das professoras, bem como se constatou a necessidade de produção de obras didáticas, complementares ou diferenciadas do livro didático.


Propostas metodológicas para utilizar o cinema no ensino de História
Fabiane Maria de Oliveira Chagas (Graduada em História Unifap)
Renata Miranda dos Anjos(Graduada em História Unifap)
Rosana Moura Serra da Gama (Graduada em História Unifap)

Este trabalho focaliza o cinema no ensino de história, visando apresentar e discutir alguns procedimentos metodológicos que aprimorem a utilização desse recurso didático no Ensino Médio. Partimos da premissa de que os filmes não são usados convenientemente em sala de aula, assim sendo o trabalho apresenta uma investigação bibliográfica acerca de metodologias e estratégias que venham contribuir com o ensino/aprendizagem, visto que o filme seja ele documentário ou ficção é um instrumento pedagógico que oferece subsídios para trabalhar com inúmeros conteúdos, estimulando debates entre alunos e professores, permitindo dessa forma aos alunos ampliar sua percepção sobre um determinado assunto. Com o intuito de contribuir para o aperfeiçoamento do professor, oferecemos subsídios teóricos e sugestões metodológicas, visando motivá-lo a utilizar o cinema em suas aulas, legitimando assim essa prática pedagógica.